Cuento Argentino: Escola

17 de set. de 2012

Segunda-polêmica. Posts de cultura local sempre despertam diferentes reações: amor ou ódio. Sempre que fiz percebi isso: ou você concorda plenamente comigo ou me odeia e pára de seguir o blog. Chicas, moro em Bue por questões da vida, sou sincera e digo que no começo não queria vir por medo de deixar minha vida em São Paulo e também porque era bem nova pra conciliar várias mudanças. Bue é perto mas é muito diferente de tudo o que eu estava acostumada. Enfim, a idéia desse post de hoje (e de outros que virão com a tag #Minha Vida) é contar um pouquinho das experiências que eu tive e que ainda tenho na cidade. São MINHAS experiências e é legal que vocês entendam que cada um tem um estilo de vida diferente e que, principalmente, nada acontece do mesmo jeito pra um que pro outro. Ok?

      Bom, acho legal começar contando sobre meu primeiro dia aqui em Bue. Eu cheguei em fevereiro há 7 anos atrás. Buenos ainda não estava tão acostumada a receber brasileiros, portanto, a quantidade de gente que não falava português era imensa. Eu só tinha, até então, estudado uma hora por semana no colégio e tinha feito um intensivo de duas semanas com uma professora chilena em SP (mas o sotaque não tem nada a ver e chegamos aqui sem entender nada).
      A mudança de vida foi meio bruta, soubemos que viríamos pra cá e em dois meses já estávamos aqui. Eu e minha irmã nem conhecíamos Bue antes de vir pra morar, isso aí: viemos de mala e cuia sem antes conhecer. Não tínhamos escolha: era gostar ou gostar, acostumar ou acostumar.
      Me lembro bem que assim que desembarcamos em Ezeiza tudo me pareceu extremadamente estranho, raro, esquisito. Meu máximo de distância de SP tinha sido, até então, Monte Verde em Minas Gerais. Já havia sim, me mudado bastante de cidade, mas sempre dentro daquilo que eu conhecia e que pra mim, mesmo que não soubesse, era minha zona de conforto.


      Logo na primeira semana que chegamos (aliás no segundo dia que estávamos aqui) fomos conhecer um dos colégios que meus pais tinham pensado pra gente. Colégio enorme, diferente, com reitor, com piscina, com pátios imensos. Eu me senti pequena, eu e minha irmã, pequenas de tudo. E não entendíamos nem sequer o ''Buen día'' da equipe. Me lembro que saí pela porta desse colégio acabada, como se não houvesse saída. Pra tentar animar meu pai comprou sorvete e eu me lembro que não gostei por ser muito doce! GENTE, QUE ABSURDO ahaha, mas enfim. É aquela velha história de que quando você não está bem, nada funciona.
      Esse primeiro colégio que fomos conhecer acabou sendo o escolhido. E aqui é legal dizer que até 2006/2007 muitos colégios da cidade ainda eram divididos entre meninos e meninas. Uma das escolas que amamos não tinha ainda meninas para estudar e não pudemos fazer matrícula. Buenos também tem muitos colégios Bilíngues a preço comum. E aqui vamos dizer a verdade: o preço de uma boa escola aqui não chega aos pés do preço de uma escola em SP (uso SP por experiência), levando em conta que a maioria são em período integral, muitas bilíngues e com descontos super importantes pra quem tem mais de um filho no local.


      E meu primeiro dia de aula foi assim: 6h da matina eu acordo pra por vestido xadrez, meia fina preta, sapato social, camisa! Ainda que lindo eu ODIAVA meia fina, com todas as minhas forças. Chegando no colégio um susto: MUITA gente. Entrei na sala e me senti uma alienigina ahah. Logo veio a preceptora puxando, literalmente, meu cabelo que estava solto e me dando bronca pra prende-lo, pra eu tirar os brincos grandes e tirar o esmalte das unhas. E eu pensei ''God, isso é mais difícil do que eu pensava''. Raras pessoas vieram falar comigo ainda que tivesse sido apresentada formalmente na sala de aula. Minto, os meninos vieram falar comigo de futebol.
      Cheguei no hotel esse dia acabada (sim, morei 6 meses em hotel), com cabelo preso, sem brincos, sem esmalte nas unhas. Ainda que pareça fútil eram essas marcas que me faziam sentir mais pertinho do que era a minha casa até então, me fazia sentir confortável de alguma maneira. Era, psicologicamente, reconfortante.
      Eu entendia, no  mais fundo do coração, que a galera da minha turma já estava junta há muito tempo e que eu estava intrometida. Mas eu precisava de amigos, eu precisava me sentir bem-vinda. Algumas meninas foram super simpáticas comigo e me ajudavam no que era possível, duas delas estrangeiras. Mas chegava no final de semana ninguém me chamava pra sair. Ô idade terrível essa de adolescentes.
      Mães, pais que vem trazer seus filhos pra morar aqui: a cidade é incrível, mas a adolescência pode ser um problema. Portanto mudar o filho de colégio não tem que ser um empecilho, tem que ser uma solução. Se o filho não é bem recebido, porque isso pode acontecer, ou não se sente bem, não tem amigos, mude de colégio. E tente colocá-lo num mais internacional, porque tem. Tem colégios aqui na cidade que recebem mais estrangeiros. E tem outros que são mais locais. Eu estudei num desses, e posso falar com muita sinceridade que foram dois anos muito desagradáveis. E pequei em não ter me mudado de colégio como fizeram alguns amigos brasileiros que depois conheci aqui.
      Não pelo colégio em si que era muito bom e no qual eu conheci o melhor professor da minha vida. Mas pela cultura local, a cultura das pessoas que frequentam o colégio. Sabe clube de cidade pequena? Quando chega um de fora é extraterrestre? Então era assim que eu me sentia, coisa de filme mesmo.
      Portanto quando chegam no blog e falam que eu odeio a cidade e odeio argentinos eu me sinto muito ofendida. Porque? Porque eu sofri muito aqui no começo, sei que metade da culpa foi minha por não querer me acostumar e metade da ''culpa'' pelas pessoas que no começo eu conheci, mas se eu não tivesse aprendido a amar a cidade ou a gostar dos argentinos e conhecer gente mais parecida a mim, eu já teria ido embora há uns 5 anos atrás pelo menos, depois do colégio, com certeza.
      Por isso que morar fora abre a cabeça. É lutar pra se acostumar, no começo luta-se pela sobrevivência por mais extremo que isso pareça. Eu passei vários intervalos do colégio no banheiro ou nos corredores das salas, e não tenho vergonha de falar isso porque hoje é muito pequeno. Eu tive apoio da família, e isso foi fundamental. Me chamavam de gorda pra cima e pra baixo e aprendi a fazer a linha de que entra um por ouvido e sai pelo outro, eu cresci.


      Eu não quero tampouco nesse post tocar terror e botar medo pra quem vem morar aqui, mesmo porque cada um vem em uma situação diferente e hoje a cidade é mais aberta. Quantidades infinitas de estrangeiros, gente de todo o lado do mundo, literalmente. As pessoas também evoluíram, ainda bem, e Bue nunca deixou de ser linda ♥.

28 comentários

  1. Que post maravilhoso Amanda! Eu sempre me encanto com as histórias de brasileiros que moram no exterior e adorei a nova tag! Vai ser bacana saber mais sobre a sua história e deu pra sofrer um pouco junto com vc com os episódios no colégio!

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  2. Muito interessante saber essas histórias! O meu primeiro dia aqui, por exemplo, foi bastante diferente!

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    1. Sim! Foi o que eu disse cada um tem uma história né? Meu começo aqui não foi nada agradável eheh, beso.

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  3. o problema é que você veio mais nova e nao exatamente porque quis. qualquer criança/adolescente que passa por uma mudança dessa estranha e muito. eu, que cheguei aqui em bsas adulta, porque quis, com minhas próprias pernas, tive uma outra sensaçao ao pisar na argentina como expatriada!
    interessante e fica de liçao para quando quisermos mudar com nossos futuros filhos para outro pais... hehe

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    1. Oi Paula! Exato. Eu sei, hoje, que sofri por isso. Mas entendi e passou, mas durante a experiência foi bem desagradável. Sim, fica a dica pros filhos ahahaha.

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  4. Amandita,
    também adorei a nova tag do blog!
    Em alguns momentos até me identifiquei, sem nunca nem ter mudado de país.
    Esses posts com a sua experiência são ótimos, parece que cria uma intimidade com os leitores do blog.
    Tá aprovado!!
    Besos

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    1. Oi Luu! Obrigada =)
      Que bom, fica mais íntimo mesmo né? Agora que eu li o meu post deu pra perceber ahaha. Beso!

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  5. Ah, eu também me senti assim e já era adulta. Tambem nao conhecia a cidade e cheguei sabendo que ela ia ser a cidade onde provavelmente morrerei ( creepy kkkk)
    Mas a chave eh isso: encontrar pessoas afins. Os grupos sao realmente mto fechados, mas nada impede de criar o nosso próprio grupo né?
    Besos
    Dani

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    1. Oi Daniii! Claro, onde você vá vc encontra gente da tua tchurma, acredito nisso tbém! Beso.

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  6. Oi, Amandita,

    Parabéns pela coragem de compartilhar suas histórias e sensações. Pode parecer banal, mas essas coisas são tão pessoais, né não? Imagino o impacto que uma mudança dessa teve na sua adolescência, mas pode ter certeza que hj vc amadureceu 10x mais rápido por isso. :)

    Beijinhos!

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  7. Agora, uma dúvida (não escrevi antes porque só me ocorreu agora): como um post desses geraria polêmica? É uma história verídica, não é uma opinião!

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    1. Ahhh vai saber, tem um anônimo que roda o blog que sempre vem atazanar ahahaha.

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  8. Adorei teu texto, Amanda! Que legal saber mais da tua história! Eu me mudei pra BsAs já adulta e fui porque quis. Ainda assim, no início me senti muito sozinha.. hoje amo o povo argentino, me meti, botei a cara, fiz amigos. Mas acho que eles podem ser muito fechados às vezes... pra uma adolescente pode ser uma dura! Bacana que apesar dessa primeira impressão tu encontraste teu espaço, cresceu e apareceu! Aguardando os próximos posts, baita ideia contar um pouco da história por aí! Beijão!

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    1. Oi Marília! Sim, eu tenho muitas histórias de colores, como eles dizem aqui, pra contar. E acho bacana porque só assim dá pra entender mesmo a cultura de um local né?! Que bom que tu curtiu eheh, e é isso aí: tem que botar a cara sem medo *-*
      Beso.

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  9. Oi Amanditas, amei o post!!!

    A gente já tinha conversado sobre isso, e gostei muito que vc colocou aqui...como eu já tinha comentado, para mim o preconceito ainda existe, me cansa as vezes...principalmente dar explicações o tempo todo de quem eu sou ou se eu posso ou não subir pelo elevador social ou os olhares do pova da academia....mas com o dia dia vou dando menos importancia a isso, e tambem não posso me fechar na minha casinha para não sofrer preconceito, tenho q encarar isso de cabeça erguida e peito aberto, e aproveitar a cidade e as suas oportunidades!!!!!

    Bjossssss Milllll

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    1. Bruu disse tudo! Quem perde são as pessoas que nos tratam assim. A gente só tem a crescer com isso por mais duro que seja.

      Beijoca

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  10. Adorei amanda,você é uma fofa rs,adorei o texto.tenho muita vontade de conhecer buenos,desde pequena sempre amei a argentina é uma coisa que nem eu sei explicar,no fim do ano quero muito conhecer ai e quem sabe mais pra frente até morar.amei o seu site e fiquei super feliz de tê-lo encontrado,achei super minha cara e agora venho dar uma olhadinha diariamente,besos (:

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    1. Hola Dhé!
      Seja bienvenida e força na peruca, morar aqui é uma delícia (apesar dos altos e baixos que possam ocorrer eheh). Beso!

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  11. Oi Flor!! Amei o post e acho q qdo eu for tmb me sentirei muuuuito sozinha e é isso que me faz postergar a minha ida...rsrs..era novembro, agora já mudei pra janeiro..uma hora eu chego!!..rsrs..Beijos!!

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  12. Oi, Amandete,
    Gostei tanto desse post que fiquei com gosto de quero mais pra saber da continuidade da história. Conta pra gente, vai! Besos, feliz dia das crianças,haha :)

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  13. Fiquei curiosa com o nome do colégio.....
    (Eu estudei no Lengüitas)
    Bjs. Dani

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  14. Amanda, qual o melhor colégio para uma menina que cursa o 7º ano aqui no Brasil e vai mudar para Buenos Aires? Hoje ela estuda num colégio militar em Brasília, qual colégio você indicaria? Aguardo resposta. Se puder me mandar resposta no email agradeço. fernandaizabel.fiss@gmail.com

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