Recebo muitas perguntas sobre como eu vim parar aqui em Buenos Aires e reparei que nunca postei sobre isso aqui. Então, senta que lá vem história.
Eu ODIEI a novidade, adolescência é sim a pior época da vida para se mudar: eu estava começando a ter uns cachos de rolinhos de namorados, no colegial, no ápice da popularidade, líder de turma, etc. Tirar aquilo tudo de mim era, na época, impensável. Mas não tive escolha, em Fevereiro há 9 anos atrás cheguei na terra do dulce de leche.
Me lembro muito bem que fui chorando pro aeroporto, tive mil festas de despedidas, não queria ir embora de jeito nenhum. E quando cheguei, não queria ficar. Meu pai trabalha com comércio internacional, foi transferido. Cheguei a morar em outras cidades no Brasil, mas sempre por São Paulo. Nessas mudanças, cheguei a morar no interior do estado, foi quando nós não nos acostumamos muito bem, o que ocasionou na separação da família e Buenos Aires chegou, para nós, como um suspiro para voltar a morar todos juntos novamente.
Vir com empresa pra cá é diferente, portanto eu não sei - simplesmente - não sei o processo de tirar DNI, residencia, porque tudo isso foi feito pelo despachante que a empresa contratou para nós. No começo foi difícil, a adaptação no colegial foi terrível, não fui bem recebida e só queria voltar para SP. Chorei horrores, me lembro que Buenos Aires para mim era ainda estranha. Saia nas sacadas e não via nada de reconfortante naquilo tudo.
Meus pais ainda fizeram quase um programa de imersão comigo e com a minha irmã: nós não conhecíamos Buenos Aires antes de vir definitivamente para morar, e ainda quando chegamos não voltamos para o Brasil por um período de um ano. TV era só em espanhol, tudo era muito argentinizado. Não foi fácil.
Como eu cheguei nessa condição meu DNI e residencia foram quase automáticos e nunca precisei renovar nenhum dos dois, até pouco tempo atrás porque o modelo de documento que eu tinha era antigo. Com DNI em mãos, você já pode estudar, e com ele tirar o CUIL necessário para poder trabalhar.
Terminado o colegial, me inscrevi na Universidad del Salvador em Comercio Internacional. Comecei a estagiar em Vendas, depois em Marketing, comecei um blog de drinks, outro de patisseries, até que finalmente o Chicas deu o ar da graça em 2012.
Mas não foi fácil e eu sou dessas que acredita em destino. Meus pais em 2010 resolveram voltar para o Brasil, e eu ainda tinha algumas matérias para terminar na faculdade. Por isso, decidi continuar na cidade por um período de 6 meses, sozinha, para poder concluir o curso. Nesses 6 meses cresci demais. Eu sempre respeitei demais meus pais e sempre fui muito companheira, em tempos difíceis eu pude acompanhar de perto o esforço que eles faziam para me manter em colégios bons e eu podia, somente, agradecer aquilo tudo tirando notas boas e não dando motivos para queixas.
Por isso, esses 6 meses foram cruciais para mim. Foi difícil morar sozinha no começo, meu pai me ajudou no aluguel e me bancou durante esse período. Mas justo calhou de ser em um momento na minha vida que eu estava meio em crise: namorado de longo tempo terminou comigo, morar longe dos pais, pressão para terminar a faculdade e ainda com vários pontos da vida em haver.
Mas cresci muito em duas semanas, e quando minha mãe foi para Buenos Aires me buscar e me ajudar na mudança para SP eu decidi que queria ficar, para poder concluir mesmo a faculdade que acabou atrasando. Isso foi em Julho de 2011.
Não foi fácil, meus pais não gostaram muito da ideia e eu senti a necessidade de me bancar sozinha. Pelas palavras da minha mãe, eu tinha só três semanas para conseguir um trabalho e uma casa para poder ficar em Buenos Aires, caso contrário iria embora com ela, mesmo não querendo. Em três semanas eu mandei currículos para deus e o mundo, e uma empresa de consultoria me chamou para trabalhar com RH. Eu nem sabia com o que ia trabalhar, mas a empresa era multinacional e eu fui, sem medo.
Uma semana antes da minha mãe voltar para São Paulo, eu estava empregada e com um ap para morar (um quarto em uma casa compartilhada que eu achei pelo Craiglist). Não foi fácil, morar com gente desconhecida, se adaptar a uma rotina totalmente diferente, minha vida deu um giro. Mas uma coisa eu tinha prometido para mim mesma: eu ia me virar para pagar aluguel, comida, faculdade e etc.
Em se tratando de Argentina, claro que o dinheiro não dava nem pro cheiro, e eu fui aliando meu trabalho a outros freelances que apareciam: desde desgravar conteúdos de produtoras internacionais para o português, até tirar foto, fazer passeio turístico que aparecia do blog na época e etc. Pelo ritmo de vida doido que eu levava, adoeci bastante e cheguei a pensar em desistir, afinal não tem comida melhor que a da mamis. Mas não quis.
Aos poucos as coisas foram se ajeitando, fui chamada para outro emprego em RH mesmo (que é meu emprego atual) e consegui, finalmente, ir para um ap morar sozinha. Blog começou a bombar e eu hoje estou feliz por ter 23 anos, morar em outro país e não depender financeiramente dos meus pais. E espero que eles se orgulhem disso.
Tudo isso eu comento porque também me chateio quando me chamam de filhinha de papai e mamãe. Claro que sou, todo mundo é: precisa-se de duas pessoas para fazer uma, certo? Mas eu trabalho bastante, viro noites escrevendo posts e no outro dia levanto cedinho para minha vida normal, pegando metro (não tenho carro), ônibus, fazendo compras, cozinhando todos os dias, lavando e passando roupa e etc.
Tudo o que eu coloco no blog é sim minha vida, ou a maior parte dela e só reflete o que eu curto fazer - na maior parte das vezes - nos finais de semana. Onde eu teria tempo para descansar mas prefiro adiantar os posts da semana para vocês.
Por isso, muita gente me pergunta como eu vim morar aqui e a real é que foi assim, por obrigação. Mas ainda bem. Cada um tem uma experiencia diferente na cidade e cada um arma a sua própria Buenos. Independente de quanto tempo isso vá durar. Se vocês me perguntam se eu vou morar aqui para sempre? Não sei. Acho que uma coisa que aprendi com os argentinos é deixar as coisas fluírem, e deixar o destino falar mais alto. Viver mais o hoje e ser feliz com pequenas coisas, desde um café gostoso ou um doce delícia, tudo vale a pena.