Eu tinha outro post programado pra hoje, mas acontece que ontem eu saí e conheci um casal de leitores do blog. Casal inteligentíssimo, buena onda e copados. Conversamos à beça e acabei relembrando de como foi minha chegada à essa cidade. E como tudo hoje faz sentido se analiso as peças do destino.
Não sei se vocês se lembram, mas quando eu cheguei aqui na cidade nem tive oportunidade de conhecer muitos colégios. Entrei logo num dos primeiros que fui ver. Acontece que naquela época, há 8 anos atrás, era normal os colégios porteños separarem por sexo os alunos. Portanto, haviam colégios que só aceitavam meninas e outros só meninos.
Me lembro que um dos
colégios que mais amei não tinha uma menina na minha sala e acabei não podendo fazer matrícula nele. Enfim, passado isso, finalmente meus pais encontraram um bom colégio perto de casa que sempre havia tido educação ''mixta''.
Mixta uma ova né. Me lembro que entrei na sala de aula: 50 alunos, 30 homens, 20 mulheres. O Muro de Berlim estava ali, transparente: não havia mistura. Eram três filas de meninos e duas filas de meninas. Achei muito estranho, mas ok. Só tinha uma mesa no meio dos meninos disponível e eu me sentei ali. Acho que por isso não tenho
amizades do colegial até hoje.
Depois eu fui vendo atitudes, fui percebendo detalhes cotidianos que eram assim: imperceptíveis a olhos nu de um turista e super vivenciados por quem mora na cidade mas é de fora. A grande diferença que é ser menino e menina até uns 15 anos na cidade.
Eu sempre comento aqui como as argentinas são
histéricas e como os meninos, também são. Mas uma coisa puxa a outra: partindo de uma educação segmentada por sexo no colégio, tudo o que se pode esperar depois é uma consequência disso.
Digo isso porque além das carteiras serem separadas (ainda que esteja totalmente permitido menino misturar com menina), eles mesmo não se misturam. Eu nunca entendi muito bem isso até começar a vivenciar as coisas que a minha irmã menor, vivenciava.
Ela tinha vários amigos, mas só ia a
festas de aniversário de meninas. Nunca entendia porque o Juan que falava com ela todos os dias, não a chamava para festas e para ir na sua casa (uns 8 anos de idade). Minha mãe também, me lembro, que achava estranho e com medo de que a Helo estivesse passando por uma espécie de bullying no colégio, ligou para a mãe do menino que comentou:
''Pero, Val, no es común acá que chicos y chicas se mezclen en cumpleaños y fiestas hasta los 12 años, por lo menos''. OIIII, COMO ASSIM GENTE? Tá explicado metade das atitudes de hoje em dia. Tudo aqui é separado por sexo até uns 12 anos, desde aniversário, até educação, passando por prática de esportes e esse conceito é criado, já seja, dentro de casa ou na sociedade.
Meninos vivem sem conviver com meninas, e meninas vivem sem conviver com meninos. Quando essa convivência acontece finalmente, eles - literalmente - não sabem o que fazer. Não sabem mesmo. E daí que surge essa coisa de ser histérica, mulher quando vê homem aqui parece doida: mexe no cabelo a cada dois segundos, grita, joga água no menino, fica querendo chamar atenção. E errado se você pensa que eles não curtem: eles gostam porque estão acostumados.
Logo, quando eu digo que vivo nm país onde um
''me gusta'' no facebook é sinônimo de que o cara está afim de você é porque, na real, é verdade. Pra eles, colocar um me gusta/ like já é algo bastante grande (ps.: imagina cutucar? ahaha, brincadeira).
Enfim, isso explica mais ou menos o ritmo da coisa por aqui. São vários detalhes na real que fazem com que o relacionamento entre porteños seja bastante diferente do que estamos acostumadas. Óbvio que existem
exceções, que nem todos os homens suportam gritaria/ jogadas de água na cara/ movimentos excessivos de cabelo. E também, é por isso, que não há muita amizade entre homem e mulher aqui.
Tudo isso me leva a acreditar também que quando o homem vê que a mulher é
independente, cuida da vida sozinha, e faz o que quer fazer, tenha medo. Não quero me meter em temas de machismo aqui porque não vem ao caso e não quero criar polêmica, mas homem aqui está acostumado a ser 'mais'. Quando se depara com uma mulher que tem algo a mais que ele, ele se retrai e sente medo.
Como eu já comentei nesse post aqui.
Quem namora aqui, sabe que os grupos não se misturam: raras vezes você pega seu grupo de amigas e mistura com o grupo de amigos do seu namorado. Sair de casal também não é muito comum. É normal tu ficar em casa um sábado à noite porque teu bofe foi pra balada com os amigos, e ainda que fosse legal ele te convidar eles não o fazem. Meninas, saem com seus grupos (quase sempre só de meninas, umas 10 mais ou menos) e os meninos também. E isso não acontece só com casais que moram separados, quem vive debaixo do mesmo teto passa pelo mesmo.
Esse post dá muito pano pra manga, mas eu acho que caía bem na semana da honestidade do blog. E aí, que vocês acham?