Como tudo começa...

26 de jul. de 2013

Eu tinha outro post programado pra hoje, mas acontece que ontem eu saí e conheci um casal de leitores do blog. Casal inteligentíssimo, buena onda e copados. Conversamos à beça e acabei relembrando de como foi minha chegada à essa cidade. E como tudo hoje faz sentido se analiso as peças do destino.

Não sei se vocês se lembram, mas quando eu cheguei aqui  na cidade nem tive oportunidade de conhecer muitos colégios. Entrei logo num dos primeiros que fui ver. Acontece que naquela época, há 8 anos atrás, era normal os colégios porteños separarem por sexo os alunos. Portanto, haviam colégios que só aceitavam meninas e outros só meninos.
Me lembro que um dos colégios que mais amei não tinha uma menina na minha sala e acabei não podendo fazer matrícula nele. Enfim, passado isso, finalmente meus pais encontraram um bom colégio perto de casa que sempre havia tido educação ''mixta''.


Mixta uma ova né. Me lembro que entrei na sala de aula: 50 alunos, 30 homens, 20 mulheres. O Muro de Berlim estava ali, transparente: não havia mistura. Eram três filas de meninos e duas filas de meninas. Achei muito estranho, mas ok. Só tinha uma mesa no meio dos meninos disponível e eu me sentei ali. Acho que por isso não tenho amizades do colegial até hoje.


Depois eu fui vendo atitudes, fui percebendo detalhes cotidianos que eram assim: imperceptíveis a olhos nu de um turista e super vivenciados por quem mora na cidade mas é de fora. A grande diferença que é ser menino e menina até uns 15 anos na cidade.

Eu sempre comento aqui como as argentinas são histéricas e como os meninos, também são. Mas uma coisa puxa a outra: partindo de uma educação segmentada por sexo no colégio, tudo o que se pode esperar depois é uma consequência disso.

Digo isso porque além das carteiras serem separadas (ainda que esteja totalmente permitido menino misturar com menina), eles mesmo não se misturam. Eu nunca entendi muito bem isso até começar a vivenciar as coisas que a minha irmã menor, vivenciava.

Ela tinha vários amigos, mas só ia a festas de aniversário de meninas. Nunca entendia porque o Juan que falava com ela todos os dias, não a chamava para festas e para ir na sua casa (uns 8 anos de idade). Minha mãe também, me lembro, que achava estranho e com medo de que a Helo estivesse passando por uma espécie de bullying no colégio, ligou para a mãe do menino que comentou:

''Pero, Val, no es común acá que chicos y chicas se mezclen en cumpleaños y fiestas hasta los 12 años, por lo menos''. OIIII, COMO ASSIM GENTE? Tá explicado metade das atitudes de hoje em dia. Tudo aqui é separado por sexo até uns 12 anos, desde aniversário, até educação, passando por prática de esportes e esse conceito é criado, já seja, dentro de casa ou na sociedade.


Meninos vivem sem conviver com meninas, e meninas vivem sem conviver com meninos. Quando essa convivência acontece finalmente, eles - literalmente - não sabem o que fazer. Não sabem mesmo. E daí que surge essa coisa de ser histérica, mulher quando vê homem aqui parece doida: mexe no cabelo a cada dois segundos, grita, joga água no menino, fica querendo chamar atenção. E errado se você pensa que eles não curtem: eles gostam porque estão acostumados.
Logo, quando eu digo que vivo nm país onde um ''me gusta'' no facebook é sinônimo de que o cara está afim de você é porque, na real, é verdade. Pra eles, colocar um me gusta/ like já é algo bastante grande (ps.: imagina cutucar? ahaha, brincadeira).

Enfim, isso explica mais ou menos o ritmo da coisa por aqui. São vários detalhes na real que fazem com que o relacionamento entre porteños seja bastante diferente do que estamos acostumadas. Óbvio que existem exceções, que nem todos os homens suportam gritaria/ jogadas de água na cara/ movimentos excessivos de cabelo. E também, é por isso, que não há muita amizade entre homem e mulher aqui.

Tudo isso me leva a acreditar também que quando o homem vê que a mulher é independente, cuida da vida sozinha, e faz o que quer fazer, tenha medo. Não quero me meter em temas de machismo aqui porque não vem ao caso e não quero criar polêmica, mas homem aqui está acostumado a ser 'mais'. Quando se depara com uma mulher que tem algo a mais que ele, ele se retrai e sente medo. Como eu já comentei nesse post aqui. 


Quem namora aqui, sabe que os grupos não se misturam: raras vezes você pega seu grupo de amigas e mistura com o grupo de amigos do seu namorado. Sair de casal também não é muito comum. É normal tu ficar em casa um sábado à noite porque teu bofe foi pra balada com os amigos, e ainda que fosse legal ele te convidar eles não o fazem. Meninas, saem com seus grupos (quase sempre só de meninas, umas 10 mais ou menos) e os meninos também. E isso não acontece só com casais que moram separados, quem vive debaixo do mesmo teto passa pelo mesmo.

Esse post dá muito pano pra manga, mas eu acho que caía bem na semana da honestidade do blog. E aí, que vocês acham?

18 comentários

  1. Sempre comento esses absurdos comas pessoas,e ninguém no brasil acredita que possa ser assim realmente,da mesma forma até hoje,depois de 2 anos de de namor,o meu namorado custa a entender porque eu tenho tanto amigos homens,porque eu e eles podemos conversar de qualquer coisa sem que o cara ou eu tenhamos segundas intenções,dai junta que ele é de família italiana,super machista na casa dele,ai já viu né?Mas claramente tinha que chegar uma brasileira metida pra ir mudando a cabeça dele e até dos pais dele aos poucos,mas ainda assim quando junto meus amigos da faculdade aqui em casa,no dia seguinte ele tá todo estranho, #chatiado porque tinha homem na minha "juntada".
    Mas fazer o que né?é a vida,fim do ano to levando ele pro Brasil pra ele ver como funcionam as coisas e conhecer minha família.Me deseje sorte Amanda!!haha
    Beijos amo o blgo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Elis, sei bem como é. To namorando há 8 meses um. Ele é maravilhoso, mas muito histérico. Hoje mesmo falamos sobre isso, conversamos que essas coisas tem que mudar. Ainda estou no Brasil, mas me mudo em agosto (tá perto). Ele já veio aqui e conheceu minha família e tals. Tem a mente bem aberta pra muitos assuntos. Mas é argentino, italiano...Nossa!!!

      Eu o amo!

      Excluir
  2. eu to no mesmo caso da Elis, mas acho que isso é coisa de cheto viu?]
    aqui no trampo o pessoalzinho de palermo, belgrano, olivos é meio assim
    mas a galera do meu namorado (la matanza avanza!) sao bem mais de boa. minha cunhada, por exemplo, tem o grupo forte dazamiga, mas tem mino no meio tbm. Mesma coisa com meu boy. O que eu num curto muito é como a minha sogra é extremamente a vovo italiana que quer fazer tudo...TUDO! E meu namorado acho que eu sou a mama e quer que eu faca tudo pra ele. Isso sim eu vejo em todos os homens; totalmente dependentes das mulheres.

    ResponderExcluir
  3. Amanda, realmente o papo foi super agradável, vc é sensacional e inteligentíssima, além de ser uma pessoa fofa e agradabilíssima (ah, e muito bonita tbém, rsrs!) . Não vai faltar a oportunidade de um próximo papo. Estamos te esperando no Rio de Janeiro hein!!... Beijos e obrigado por tudo, nós é que agradecemos pelas maravilhosas dicas!

    ResponderExcluir
  4. Kkkkkk bem assim. E elas sao machistas tb! Eu e meu namorado discutimos durante uma hora pra ver quem pagava a conta. Eu queria rachar, e ele achou um absurdo. Pode isso? Hahaha acho que essa cultura italiana faz Buenos ser uma cidade um tanto quanto machista.

    ResponderExcluir
  5. a história aí da educação mista ainda acho limitada pra entender a totalidade da coisa, a parte mais psicológica, digamos, mas concordo com muito do que você disse. penso que, infelizmente, muitos argentinos (sem querer generalizar) são bastante inseguros e com isso vem um monte de outros problemas. é uma pena, povo e país lindos!

    ResponderExcluir
  6. Pra mim é uma surpresa, meu primeiro namorado foi argentino e eu ficava cansada do quanto a gente sempre saía em casal. As vezes queria sair SÓ com ele, e lá estava ele convidando os amigos dele e me pedindo pra convidar as minhas. Depois dele tive outro namorado argentino (os dois foram porteños, pra quem acha que é impossível namorar porteño, fica aí uma esperança)e nunca tive problemas com esse sexismo exacerbado. Também tenho amigas argentinas e saímos com meninos mas também saímos com meninas, e não, não acho que elas sejam histéricas. Também tenho amigos argentinos, que saem com outras amigas e por aí vai. Não te conheço pessoalmente, não sei o que você vive fora do blog, mas se for basear no que a gente lê aqui, talvez você realmente precise sair um pouco de Palermo e afins. :) Um beijo.

    ResponderExcluir
  7. Eu juro que eu não consigo entender, eu fui pela segunda vez em Buenos Aires, passei apenas 12 dias, e fiquei logo de cara amiga de um menino que mantenho contato até hoje, e quando voltei ainda mantive contato com ele, saimos juntos todas as vezes que estive lá... E não ficamos, apenas amigos mesmo. Não sei se é exagero algumas coisas que são escritas aqui, ou realmente eu conheci pessoas que são totalmente parecidas comigo e que não tem essa histeria que você tanto diz dos argentinos, e o grupo dele de amigos incluia sim mulher, enfim, não consigui ver mesmo esse jeito que você fala dos argentinos, talvez seja o meio que a pessoa anda, assim como em qualquer lugar do mundo, sempre vão ter as pessoas mais de boa, e sempre vão ter as pessoas frescas, difícil de socializar, comigo graças a deus, foi muito fácil, ótimas lembranças e amizades. (: Talvez seja uma questão de mudar de ares mesmo... Fica a dica!

    ResponderExcluir
  8. "É normal tu ficar em casa um sábado à noite porque teu bofe foi pra balada com os amigos, e ainda que fosse legal ele te convidar eles não o fazem" É por essas e outras que eu não namoro boy de balada. Conheci meu boy fora da balada e ele nunca me deixou sozinha em casa num sábado a noite pra sair com os amigos dele, exatamente porque ele não gosta de balada. Não sei, as vezes o pessoal dos comentários acima podem ter razão, talvez seja uma questão de ambiente. É difícil analisar uma situação assim de fora, mas a gente não pode negar que um ambiente X vai atrair um determinado grupo de pessoas. Talvez seja isso que esteja acontecendo. ;)

    ResponderExcluir
  9. É cultural!! É exatamente assim que funciona. Nao adianta querer discutir!! Como a Amanda comentou, há exceçoes obvio, mas regra geral é assim que funciona. Existem diferenças que culturais é fato!!

    ResponderExcluir
  10. Acho muito engraçado esse povo que vai passar uma semana, dez dias e acha que conhece argentino porque pegou um na balada!! Hello povo!! Pra conhecer de fato como é a cultura tem q morar na cidade. Morei em Bue por 3 anos, namoro um argentino e eles são assim. Outra coisa meninas que vão passar uns dias em Bue, o argentino é muito chamuyero ele te chama de amor, diz que vai te apresentar a familia, tudo isso so p te pegar, depois game over!!

    ResponderExcluir
  11. Ah cara, achei as meninas meio grossas ao "sugerir" a mudança de ares pra amanda.. sim há pessoas que não são como as descritas no post, mas isso não muda o fato de existirem muitos e muitas que são sim como a amanda descreveu.. e se o seu caso, ambiente, amigos.. etc.. são diferentes, bom pra ti! mas não fique criticando a opinião e situação que a blogueira está expondo.

    Amanda, concordo contigo que realmente as vezes ocorre um misto de ego e insegurança tanto nos chicos quanto nas chicas( tenho amigos e amigas lá, então a minha situação e experiencia é disso.. sendo igual a de outro ou não), mas olha você parece uma chica super buena onda, segura de si, e vai chamar a atenção de alguem assim tambem.. a gente só nunca sabe quando, onde.. e se vai ser um hermano ou não né hahaha
    Besos, com muito carinho querida, não se deixe entristecer por nada!

    ResponderExcluir
  12. Querida, passei apenas pra dizer que amo seu blog!
    Tem sido leitura obrigatória ultimamente.
    Beijos e obrigada por compartilhar tantas dicas! ;)

    ResponderExcluir
  13. Amanda lembrei desse post duma Americana no brasil:
    http://daniellebrazil.blogspot.com.br/2013/02/what-ive-learned-from-carnaval.html

    "Listen. First argument, for the Brazilian readers who get on foreigners' cases about complaining or having rant-y posts: It is impossible to be an immigrant in your home country, so you will never truly understand what an immigrant in your country is experiencing[...]
    Second argument, for the fellow foreigners who are annoyed or just confused by accounts from other foreigners: your life is not my life. We're all doing the best we can to understand things, right?"

    o post todo dela é muito bom, espero que sirva de ajuda pra ti, de não se abalar com as críticas, adoro seu blog, beijoos

    ResponderExcluir
  14. Oii Amanda..
    Quero saber se você tem uma noção de preço de academia e de yoga.
    Gracias!!!!

    ResponderExcluir
  15. Amei, Amanda! Sou fã do seu blog. Muito bom post, inspiradíssimo!besos

    ResponderExcluir
  16. Amanda, esse post me deixa com medo de mudar de país rsrsrs
    Meu namorado tem algumas amigas mulheres, vai pra balada com uma turma de meninas e meninos, ele nunca me contou esse lance do colégio, achei bizarro!
    Mas assim, quando conheci ele, ele não foi nada chamuyero hahahah
    Acho que por isso gostei dele.

    Espero que você encontre alguém aí que te faça esquecer o quanto esses garotos são lentos. Acho que no Brasil é bem pior! Sempre digo, nasci no país errado.
    Nunca me prendi a um namoro com brasileiro por muito tempo... são lentos e complicados kkkk


    Beijos

    ResponderExcluir
  17. Sim, achava super estranho o pessoal na faculdade (em que estudei) sempre separado em grupos só de homens ou mulheres! Alias, poucos argentinos falavam com os alunos estrangeiros...
    Com o tempo percebi que era cultural e me acostumei..

    E sim, os argentinos são chamuyeros! Principalmente quando você diz que é brasileira!
    Claro que existem exceções, mas.. hehe

    Amandaa, adoro seu blog! Sou sua fã!
    Beijos

    ResponderExcluir

SUBIR
Buenos Aires para Chicas . Todos os direitos reservados. © Maira Gall .