A Mudança de um Parâmetro de Beleza

8 de set. de 2014

Eu fui desafiada por várias pessoas para fazer aquela foto sem maquiagem. Confesso não ser muito fã de virais, mas quero aproveitar essa selfie (abaixo) para poder abrir aqui meu corazón de uma maneira que eu nunca fiz antes. 

Falar de esteriótipos de beleza, pra mim, é forte. Se você não sabe eu vim morar em Buenos Aires com 14 anos. Auge da adolescência, da rebeldia sem causa, uma das piores fases - também - para se sentir  bonita: primeiro porque tá tudo errado, você usa aparelho, tem espinhas, um horror. E também porque você começa a ver que pode melhorar tudo isso e pode ficar meio paranoica.

Morando no Brasil eu nunca antes havia tido problemas com peso. Minha família (parte de mãe) sempre foi tipo pera: quadril largo, cintura fininha, bunda grande, peitos pequenos. Eu sou assim. Minha irmã é assim, minhas tias são assim. E eu me aceitava assim no Brasil. Aliás, falando de padrões de beleza, para Brasil eu estava bem. Tinha corpo. Tava ok.

Aí eu vim morar em Buenos Aires. Aí, a coisa escureceu. Para padrões argentinos eu era bem gorda. No começo não me importei. Comecei a fazer natação com as meninas e percebia olhares diferentes pra uma celulite aqui, outra ali. E olhares desviados. Acuei bastante, mas ainda assim não achava que era por conta disso.

Com o passar dos meses eu não só percebi como todas as meninas da minha sala - e colégio - eram magras mas, também, como elas viviam para ser magras. Faziam loucuras mesmo para emagrecer, anorexia completa. Com 14/ 15 até 17/ 18 anos tua cabeça dá um giro e por mais que você seja madura aquilo te infecta da pior maneira possível. Bullying, olhares feios, brincadeiras sem graça, tudo isso vai somando.

Um belo dia me inscrevi na academia, estava disposta a emagrecer uns 5 kg. Ia duas ou três vezes por semana e fazia bastante caminhada e musculação e alinhei isso com uma alimentação menos regada a medialunas (que eu não entendia como eram boas) e chocolates e sorvetes de Freddo.

Acontece que atingida a meta de emagrecer 5kg eu queria mais, porque me sentia melhor. Resolvi emagrecer mais, só que daí a coisa já tinha desandado de vez: comia muito muito muito mal, não sabia de onde tirava forca para caminhar na academia e minha bunda e quadril não diminuíam, para meu desespero. Saía e não bebia nada.

Eu entrei em uma fase horrível da vida e me via horrorosa no espelho. Viciada em exercícios e não podia ver uma pessoa comendo chocolate que xingava. Emagreci muito, uns 10 kg fácil, chegando na casa dos 40kg. Ia para o Brasil e todo mundo me dizia que eu parecia uma caveira, mas eu  não me via assim, eu estava bem. E aqui o mais forte: o meu parâmetro de beleza havia mudado completamente. Ser linda era ser magra.

Desculpa e se você for me julgar com 14 anos não comente no post: mas você fica muito mais vulnerável aqui a achar que está gorda ou fora dos padrões de beleza e isso é um saco. Um saco porque tem que tá muito fuerte pra não cair em besteira, do jeito que eu fiz há 10 anos atrás.

No meu auge de loucura o negócio foi feio demais, desmaiei convulsionei e não conseguia pegar meu primo no colo. Assustei muito e chorava todos os dias. Por mais que eu olhasse as meninas daqui na rua nunca iria ser como elas e por isso comecei a me afastar. Para mim é doentio estar comendo e falar em emagrecer, para mim é doentio ficar o dia inteiro regada a mate, é doentio passar frio porque frio faz queimar calorias, para não falar em outras merdas coisas que algumas aqui fazem para emagrecer.

A argentina é magra por diversos motivos, um deles é a bendita genética outro e a bendita preocupação em estar seca. O esteriótipo de beleza aqui é ser magra, é assim ponto. Esquece estar cuidada com cabelo hidratado, unhas feitas, pele bronzeada, pernas torneadas. É ser magra. Você entra no ônibus, tem meninas secas. Entra no bar, meninas magérrimas. Vai à uma loja, e todas são magras. E eu juro, meninas, que tem que estar muito bem consigo mesmas para não cair em ciladas e não deixar isso influenciar a vida de maneira negativa. Conheço várias brasileiras aqui que cada dia que passa estão mais preocupadas em emagrecer, estando normais: indo a nutricionistas, tirando tudo de gostoso da vida para não engordar mais para padrões argentinos.

Hoje eu não faço mais essas nada disso, claro que não, mas alerto a mães que tem filhas em colégio a ficarem ligadas. EU sei o que é, eu sei as loucuras que eu vi que as meninas faziam para emagrecer e não quero dizer aqui para não dar ideia a ninguém, mas é um mundo bemmmmm obscuro que, infelizmente, morando aqui você tem mais acesso. Eu já comentei, mas vou ressaltar de novo: Buenos Aires só perde para Tókio no ranking de anorexia mundial. É muito triste. MUITO.

É comum ficar vulnerável quando você vai à uma loja e nenhuma roupa entra e você tem que comprar GG, ou quando você come algo com doce de leite e tem gente te olhando, ou quando você lida com essa padrão de beleza no ônibus, metrô, na aula, 24h por dia. Qualquer uma faz dietas malucas mesmo sendo errado, mas da dieta maluca para um problema sério é um caminho curto. E eu não quero nenhuma nisso, por isso hoje abri aqui a realidade escura de um problema sério que eu mesma passei e que não é fácil falar e que rola aqui e que eu acho que todo mundo deve saber.

E se você pensa "como assim, onde tem doce de leite e empanada? Como elas são magras?". Simples, elas não comem nada disso. Nada mesmo.

16 comentários

  1. Amanda...te acho linda demais!! Eu e uma amiga estavamos conversando, por que a Amanda nao tem namorado??? Impossivel!! Ela é linda!! Bom..te vi na rua um dia em Buenos Aires e continuo achando voce linda!! Voce não tem corpo esqueletico, não é gorda, nem isso nem aquilo outro...você é mesmo linda! E se fosse isso ou aquilo outro, o que tem? Ai gente...vamos nos achar bonitas(os) como somos mesmos...tão bom, uma vez ou outra colocar o pé na jaca e comer mil medialunas de dulce de leche!!! Vejo aqui em Bue que as mulheres são mesmo ultra magerrimas...a base coca light e luz... E já sai da adolescencia há uns bons anos, mas que tanta magreza faz você pensar no seu proprio corpo..isso faz... Por um mundo com mais amor e menos esteriótipos! Ah...já te disse ne?! Voce é linda!

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  2. Olá Amanda! Na terra do doce de leite e da carne...Como as argentinas conseguem?

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  3. Sabe, da primeira vez que fui pra Buenos Aires pensei muito a respeito disso. Eu olhava para as meninas, seus corpos magérrimos e cabeleira longa. Eu sempre fui mais pera cheinha do que qualquer outra coisa na vida, mas o que mais me incomodou foi a aparência tão comum entre elas. Eu acredito na saúde, identidade própria e felicidade através da aceitação do próprio corpo. Entendo muito bem o que acontece na adolescência, imagino o quão difícil deva ter sido pra ti nessa época e agora poder comentar disso de mente aberta. Espero que tu seja a sementinha aí, a erva daninha que toma conta, e que possa alertar mais mães/pais sobre o problema e garotas que estejam se perdendo por este caminho (;

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  4. Hey! Teu blog é fofo e excelente. Amo Buenos Aires. Descobri o Chicas há uns dois meses e agora sempre dou uma olhadinha, além de estar catalogando as dicas (devo voltar praí em breve). Não sou mto de comentar em blog, mas como li seu post narrando o duro que você dá para manter isso aqui numa Buenos Aires por vezes hostil (essa inflação me dá nervoso só de pensar), acho que vale uma mensagem de apoio! hehe Um beijão

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  5. Oiê! Como vc é linda, Amanda! E me parece uma beleza que, acima de tudo, vem da sua alma, da sua vontade de viver, de experimentar o novo. Isso infelizmente não é pra todos. E especialmente na adolescência é difícil não se ver a partir do reflexo dos outros e não em nós mesmas. Acredito que esse estetiotipo de magreza é uma coisa meio global. No Brasil já está parecido, especialmente entre as adolescentes. O negócio é que quando a gente amadurece entende que é impossível brigar contra a estrutura corporal que veio definida no nosso DNA, que pode sim ser melhorada com um estilo de vida saudável. Acho que valeu demais a sua exposição, o seu alerta. Um beijo na sua cara lavada linda e corajosa!

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  6. Já fui muito à Argentina, principalmente a Buenos Aires e o que percebi foi que a população, de uma maneira geral, tem engordado bastante. Quando fui a primeira vez, tomei aquele choque tb. As gurias super magras e com peitão. Quando fui da última vez, no começo desse ano, comecei a achar que as pessoas tinham engordado bastante, tipo bastante mesmo. Passando no nível magérrima pra um nível de sobrepeso, ou obesidade. Não sei se a vida ficou mais estressante e as pessoas resolveram descontar em comida, mas foi o que eu percebi. E olha que eu não sou nenhuma modelo (mt pelo contrário, tenho bem minhas banhas sobrando), mas achei que em pouquíssimo tempo, a população tinha engordado muito, de uma maneira geral.

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  7. Eu acredito que tenho auto estima saudável, mas fiquei abalada com a mesma coisa quando vim pra cá. E olha que eu já tinha mais de 20 anos, personalidade formada, enfim. Imagino como deve ter sido ruim pra vc na adolescência, aquela fase estranha da nossa vida (rs). Mas que bom que vc superou, porque é linda, independente, realizada; não tem que ficar com essas neuras não, isso é coisa de argentina histérica. =P De qualquer forma, confesso que esse choque de realidade me fez tomar consciência mais rápido de que realmente tava gordinha (pro padrão brasileiro, pq aqui eu sou obesa mesmo hehe) e resolvi me cuidar. Mas prefiro acreditar que fiz isso por mim, e não pelo padrão de beleza opressor daqui.

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  8. Nossa! Eu estive aí em Maio e Julho e achei que elas eram muito magras mesmo. Olha que, mesmo sendo carioca (os cariocas gostam de corpos mais sarados que magros), eu tenho gosto mais para corpos magros. E as achei magras demais! Pensei que fosse genética mesmo ou o próprio frio (já que me esbaldei em medialunas e dulce de leche + cachafaz + milanesas por 15 dias cada vez....affff! E não explodi!)
    Olha, eu estou com sobrepeso, mas o que tenho a dizer é que não troco meu corpo com sobrepeso por essa magreza sem sal das portenhas... e vou falar que não fiz pouco sucesso com os rapazes portenhos, não... será que porque num país que gosta tanto de carne as mulheres estejam sofrendo de tanta falta dela?

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  9. Legal mesmo seu post. Eu vou bastante praí e sempre me impressiono com a magreza, sempre vejo meninas que tenho certeza de estarem com anorexia na rua. E olha que eu sou magra, compro roupas aí adoidado, mas normal, não doente. EU sempre penso que seria considerada gorda aí. Agora me diz, de que vale viver sem poder comer um alfajor, um doce de leite, uma empanada? Que coisa chata. Fora que ficar sem comer é ficar de mau humor. Deve ser por isso que elas normalmente são um porre. O que me intriga é como os homens aguentam/ gostam disso.

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  10. Olá, comecei acompanhar o blogger hoje e gostei muito dos tópicos, estarei indo passar uma temporada em Buenos Aires e queria te pedir para fazer um post sobre salão de beleza etc, falando como que é o ritmo etc. :)

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  11. Amanda, mas qual a preferencia masculina? Porque as vezes nós buscamos um padrão de beleza que não condiz com a prefernecia masculina, né? É um padrão entre as mulheres mesmo... no brasil a gente vê isso.. mulheres que querem ser magras e o brasileiro diz que quem gosta de osso é cachorro.

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    1. Que bueno que no les guste a los brasileros las argentinas!!! Ellos son horribles mesmo. Parece que en Brasil solo comen las mujeres, porque eles son bem magrelos

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    2. Ainda bem que brasilero nao gosta de mulher Argentina, porque mulher argentina nao gosta de homem brasilero. Acho las brasilñeras bonitas , mais seus homems nao

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  12. estou bem acima do peso,estou indo para estudar em Buenos Aires e obrigado pelo post já vou me preparando psicologicamente ,poderia me ajudar me informando se tem lojas de roupas para mulheres plus size ?

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