Dias que Buenos Parecia Acabar

6 de fev. de 2013

Acho que agora que o furdunço acabou, posso falar: ano passado 2 dias atípicos ocorreram em Buenos Aires. Sabe desses dias que, literalmente, você acha que o mundo vai acabar? Então, a situação foi meio apocalíptica.

Eu tomei coragem pra expressar minha opinião aqui porque primeiro passou, segundo, eu como cidadã moro nessa cidade linda de meudeus mas que tem lá seus problemas sim, e não é por ser estrangeira e morar aqui que não posso falar mal da cidade. Todo lugar do mundo tem seus prós e contras, não tem lugar perfeito. Terceiro, e último, a idéia é mostar que foram dias atípicos e que cancelar a viagem por conta disso não rola, por isso esperei para poder vir aqui comentar.

7 de Novembro de 2012
Buenos não teve primavera, simplesmente assim. Com temperaturas ridículas de 40 graus em pleno outubro, o mês de novembro começou avacalhando geral. Umidade a 80% e não baixava disso, só aumentava. Enfim, uma bela quarta feira de calor gigante eu tinha que ir até a facu depois do trabalho entregar parte da tese. 18h: saio do trampo.
18h01: apagão geral em Buenos Aires. Devido a grande demanda de eletricidade, Buenos não aguentou literalmente produzir tanta energia e colapsou. E levou a cidade ao colapso também. Metrô deixou de funcionar, trem também. Galera que estava lá embaixo no subte teve que sair entre os túneis. Eu levei do trabalho a faculdade, 3 horas, um trajeto de 20 minutos no máximo. Desastre. Geral passando mal, calor horrendo de derreter.
No outro dia, todo mundo trabalhando desde casa né. E aí, fia, choveu... As ruas de Belgrano alagaram geral, comerciantes perderam tudo, uma tristeza. Lojas vendendo tudo a 5 pesos porque não tinha como salvar nada, muita gente perdeu tudo.
Aí passou, parecia que as coisas iriam acalmar. Mesmo em meio a tantas greves, uma delas inclusive foi a maior de todas a 8N, justo um dia depois do caos.

Depois de um mês meio cambaleante, cheio de altos e baixos, se aproximava o aclamado 7D, dia em que o Governo e o Clarin brigavam na justiça por posse de direitos e produção de papel (resumindo de uma maneira bem resumida). Esse tal de 7D foi tão vendido, sim, vendido na TV e nos jornais que não se falava em outra coisa. Propagandas em todos os canais, governo atacando Clarín, Clarín atacando o Governo. Mas antes da briga chegar, veio o...

6 de dezembro de 2012
Outro dia quente pra caramba em Buenos Aires. Lá pelas 10h da manhã a notícia de que tinha explodido um navio de mercúrio levou geral que trabalha em escritórios pelas zonas de San Telmo, Microcentro e Puerto Madero a rezar. Mercúrio? Um navio? Todo mundo morre.


A notícia correu mais rápido que a velocidade da luz e todos os edifícios dessa zona tiveram que ser evacuados. Um cheiro horrível no ar, de passar mal mesmo. Ninguém sabia direito o que estava acontecendo, até que um abençoado diz que não era mercúrio e sim, pesticida. E que não era um navio, e sim um conteiner. Menos mal, mas mesmo assim, sensação horrível.

Nessa hora filho vê que todo mundo é igual. Na 9 de Julio ninguém sabia dos malefícios em inalar pesticida, ou seja, todo mundo pensa o pior: geral achava que ia morrer ali no bus voltando pra casa. Ainda que argentino seja um povo exagerado, eu vi muita gente chorando nas ruas, vi mãe desesperada ligando pra filho que trabalhava em Puerto Madero. Vi gente ajudando idoso a se sentar porque pressão caiu pelo cheiro do tóxico, vi gente cedendo água um pro outro. Vi solidariedade. Ainda no caos, a cidade ficou colapsada pelo desespero, pelo trânsito (metrô teve que parar de funcionar por ordens médicas e o trem de Retiro, perto do ocorrido, parou de funcionar também).
Nesse dia a tarde lá pras 14h o céu mais preto que eu vi na vida. Outra chuva horrorosa, aliás a pior em um bom período. Buenos Aires embaixo d'água literalmente, Belgrano um desastre. A eletricidade acaba de novo, nada funciona. Nada literalmente funciona. E daí você olha pro céu e desabafa ''Jura, tudo isso em um dia?''.

Ainda como se não bastasse no outro dia tinha o tal do 7D. Que por benção de Deus não aconteceu. Os juizes da Corte decidiram naquele 6D mesmo dar um fim, ou uma adiada na resolução final. Uma decisão sensata para depois de tudo que a cidade e os moradores tinham passado.

Comentem o que queiram, foi um desabafo atrasado de uma moradora que ama Buenos mesmo assim.

15 comentários

  1. Oi Amanda.
    Depois de tudo que tem acontecido em BsAs, inflação, essas incertezas todas, só uma coisa sempre foi certa em minha cabeça: não desistir de ir pra cidade que amo.
    Ao contrário, penso assim: vou lá curtir a arquitetura, o povo, a cultura que amo. Compras? Deixa pro freeshop, que realiza meus desejos consumistas.
    Quero é caminhas pelas calles, ver o povo, curtir uma de porteña :)

    E mais, não se ajuda o povo argentina não indo praí, mas sim "levando o nosso dinheiro pra gastar aí". Porque querendo ou não, as coisas são movidas por dinheiro.

    Enfim, era só pra mostrar que mesmo com todas essas notícias, nunca me passou pela cabeça desistir da viagem, como acredito que muitas pessoas o façam.

    besos.

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    1. UFA né :) Desistir de vir pra cá, nunquinha amo muito! Beijoca.

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  2. Tudo isso na época que vivi meu 1 mes en BUE e confesso que mesmo assim amei. Volto em maio e quero mais!

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  3. Menina, conta do dia de dezembro que a cidade teve uma super hiper alta mega temperatura! Tava aqui e derreti em dois segundos.

    Beso!

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  4. Eu estava em Buenos Aires no dia 07/11/2012, no dia do apagão.
    Fiquei mais de duas horas no taxi para ir da 9 de julho até Palermo. Quase morri de calor (taxi sem ar).
    No dia seguinte tinha um passeio até o zoologico de Lujan. Saí de vestido de manhã cedo, peguei uma chuva surreal no caminho. Quando cheguei em Lujan o zoo não podia abrir por causa da chuva. Paramos na catedral que é linda! Encarei forte chuva com bastante vento para entrar na catedral. Voltei ensopada, mas foi bem divertido.

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    1. Mas que aventura ahaha, o importante é não desanimar, né? Beso.

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  5. Dia 06 de dezembro. Não me esqueço jamais desse dia. Depois de 7 meses morando em Buenos Aires, estava indo embora, e vendo a triste notícia do Conteiner e a chuva que estava ficando cada vez mais forte. O voo não foi cancelado, então lá vou eu, para um dos piores momentos da minha vida, por várias vezes achei que o avião ia cair, de tanta turbulência. Parecia cena de filme, com crianças chorando, gente gritando a cada sacudida brusca que o avião dava, o que nos restava era trocar sorrisos para desconhecidos, na tentativa de buscar um pouco de consolo, ou sei lá o que.
    Ainda bem que foi só um susto e que ficou tudo bem, tanto no avião quanto em Buenos Aires. :)

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    1. OMG que medo, Lu! :( Que saco isso, mas ainda bem que deu tudo certo!

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  6. eu podia jurar que dia 06/12 era ensaio pra realização da profecia inca... rs

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    1. Poxa, eu também pensei, mas meu amigo me acalmou dizendo ''Amanda, sério mesmo que você acha que o mundo vai acabar aqui? Buenos não comporta um evento assim'', ahaha, chorei de rir (e de desespero também).

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  7. eu também estava em Buenos Aires no dia 06 de dezembro e foi um acontecimento. Dia começou com a gente pensando que o hotel estava pegando fogo pois começamos a sentir um cheiro horroroso. No elevador tinha uma mulher desesperada pra sair da cidade pois estava contaminada. Ao sair do hotel, como estava chovendo, fomos pegar o metrô, mas estava fechado. A gente ia para o shopping e um guarda falou que era perto e podia ir andando. MAS acabamos caminhando quase 4 quilometros!!! Na chuva!! No final... tudo se transformou em historias da nossa viagem e não deixamos de aproveitar Buenos Aires nem debaixo d´agua!!

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